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Último dia do ICA Congress 2025 discute o futuro das gemas, sustentabilidade e transformação do mercado

Publicado em 23/05/2025

Painéis analisaram tendências, desafios, novas dinâmicas de consumo e as oportunidades que surgem na indústria de gemas diante da transformação no mercado de diamantes.

Damien Cody, presidente do ICA, convida participantes para o palco durante encerramento do congresso. Foto: Paulo Negreiros.

O último dia do ICA Congress 2025, realizado nesta quinta-feira (22) em Brasília, foi marcado por reflexões profundas sobre os rumos da indústria de gemas. Os painéis trouxeram análises sobre as principais forças que estão moldando o mercado global, os impactos das mudanças no setor de diamantes, as exigências crescentes por transparência e responsabilidade no luxo e a transformação da mineração, que caminha de uma atividade baseada na sorte para operações altamente profissionais, tecnológicas e sustentáveis.

O encerramento do evento, liderado pelo presidente do ICA, Damien Cody, reforçou não só os avanços e conexões geradas durante os dias de congresso, mas também a importância da colaboração, da inovação e da responsabilidade como pilares para o futuro da indústria.

Tendências, desafios e novas dinâmicas do mercado global de gemas

Painel “Um mercado em fluxo: tendências e fatores que impulsionam a indústria de pedras preciosas”. Brecken Branstrator, editora-chefe do GemGuide. Foto: Paulo Negreiros.

O painel “Um mercado em fluxo: tendências e fatores que impulsionam a indústria de pedras preciosas” (A Market in Flux: Trends and Factors Driving the Gemstone Industry)  trouxe uma análise abrangente das forças que estão moldando o mercado global de gemas em 2025. Segundo Brecken Branstrator, editora-chefe do GemGuide, a última década foi marcada por uma escalada consistente dos preços, especialmente para materiais de qualidade fina e extra fina. A combinação entre oferta limitada — causada pela redução da atividade mineradora, falta de novos depósitos e questões geopolíticas — e uma demanda aquecida, manteve os preços elevados.

Além disso, a relutância de muitos fornecedores em negociar seus estoques, sabendo que a reposição será mais cara, tem restringido ainda mais o comércio e impactado diretamente as dinâmicas de compra e venda no setor.

As tendências de consumo também estão se transformando. Segundo Brecken, há um interesse crescente por gemas fora do circuito tradicional das “big three” (safira, rubi e esmeralda). O mercado vê uma busca intensa por materiais diferenciados — desde opacos, como malaquita e lápis-lazúli, até gemas com características consideradas “imperfeitas”, como safiras com inclusões ou pedras bicolores. A procura por peças que carreguem autenticidade, história e expressão pessoal tem impulsionado designers e joalheiros a explorar novos materiais e cortes, além de fomentar a valorização de gemas provenientes de estoques antigos (estate jewelry) e de contas de gemas (beads), como alternativas criativas e mais acessíveis, especialmente diante do alto custo do ouro.

Por fim, fatores externos como tarifas, sanções e políticas de nacionalização da cadeia de valor em países produtores têm impactado profundamente o fluxo comercial e a formação de preços. Ao mesmo tempo, cresce a adoção de práticas de sustentabilidade, rastreabilidade e parcerias diretas entre mineradores e designers, que ajudam a contar a história das gemas e criar valor além do aspecto estético. A tecnologia também começa a desempenhar papel estratégico, com aplicações de IA, blockchain e até drones sendo utilizados na exploração e certificação. Segundo Brecken, o mercado vive um momento de redefinição de valor, onde beleza, singularidade, origem responsável e narrativa se tornaram tão importantes quanto a raridade e a pureza das pedras.

As oportunidades para as gemas diante da transformação no segmento de diamantes

Painel “Margens, mitos e mercados multigeracionais: como as pedras preciosas podem aproveitar o momento deixado pela disrupção dos diamantes”. Elle Hill, fundadora e CEO da Hill & Co. Foto: Paulo Negreiros.

Elle Hill, fundadora e CEO da Hill & Co., abriu o painel “Margens, mitos e mercados multigeracionais: como as pedras preciosas podem aproveitar o momento deixado pela transformação no mercado de diamantes” (Margins, Myths, and Multi-Generational Markets: How Gemstones Can Seize the Moment left by Diamond Disruption) com uma mensagem direta: as fragilidades no segmento de diamantes não são apenas problemas para o setor, mas também portas abertas para o segmento de gemas de cor.

Com a fragilidade no mercado de diamantes ocasionado, principalmente, pelos exemplares cultivados em laboratório, surge uma oportunidade para que as gemas de cor ocupem um protagonismo inédito. Segundo ela, enquanto o mercado de diamantes se apoia em modelos baseados na repetição e na eficiência, o mercado de gemas tem como diferencial a singularidade, a escassez e a capacidade de gerar conexão emocional por meio de histórias, origem e sustentabilidade.

Elle destacou quatro grandes forças que podem ser usadas como alavancas para esse reposicionamento: storytelling, escassez, sustentabilidade e conexão multigeracional. Com exemplos práticos, ela mostrou como uma pedra comum pode se transformar em um objeto de desejo quando carrega uma história — seja pela sua origem, pela transformação social que promoveu ou pela exclusividade geológica. A executiva reforçou que as gemas, ao contrário dos diamantes, oferecem uma narrativa que não pode ser replicada em laboratório, e que isso é exatamente o que o consumidor atual busca: autenticidade, propósito e diferenciação.

O painel também trouxe uma análise detalhada sobre os diferentes perfis de compradores que o mercado de gemas pode conquistar. Desde varejistas tradicionais de diamantes, que buscam alternativas para recuperar margem e relevância, até jovens designers e setores não tradicionais, como wellness, moda e presentes, que valorizam simbolismo, cor, exclusividade e impacto social. Elle defendeu que, para aproveitar essa oportunidade, é preciso oferecer não apenas o produto, mas também o conceito, a história e ferramentas de suporte que capacitem os compradores a venderem essas narrativas ao consumidor final. “O mercado está cheio de portas abertas. A pergunta que fica é: quem está preparado para atravessá-las?”, finalizou.

Transparência, autenticidade e impacto: os pilares do marketing para a mineração responsável no luxo

Painel “Estratégias de marketing para fornecimento responsável na indústria do luxo”. Gianluca Maina, diretor de marketing global da Fura. Foto: Paulo Negreiros.

Gianluca Maina, diretor de marketing global da Fura, destacou no painel “Estratégias de marketing para fornecimento responsável na indústria do luxo” (Marketing Strategies for Responsible Sourcing in the Luxury Industry) uma mudança estrutural no mercado de luxo: a opulência isolada não basta mais.

O consumidor atual, especialmente no setor de joias, exige autenticidade, rastreabilidade e informações claras sobre práticas ESG (ambientais, sociais e de governança). Segundo ele, a confiança se tornou o ativo mais valioso para marcas e mineradoras, e essa confiança só pode ser construída com transparência real e comprovável. “Sem transparência, não há confiança. E sem confiança, não há lealdade”, afirmou. Essa é a nova equação do luxo.

Para ilustrar como isso se aplica na prática, Gianluca apresentou o conceito do círculo virtuoso: mais transparência na origem gera mais confiança no mercado, que, por sua vez, estimula o aumento da demanda por gemas. Com isso, as marcas se sentem mais seguras para investir em coleções que valorizam rubis, esmeraldas e safiras — algo que, no passado, era evitado pela dificuldade de garantir oferta constante e informações sobre origem. Hoje, tecnologias como o blockchain — que a Fura já implementa — permitem rastrear desde o local e a data de extração até os impactos sociais e ambientais associados a cada pedra.

Além de detalhar como a Fura vem aplicando esse modelo em suas operações, Gianluca destacou um dos maiores desafios do futuro: transformar dados brutos de ESG em narrativas que sejam compreensíveis, atrativas e relevantes tanto para as marcas quanto para os consumidores finais. “O futuro do marketing está em transformar responsabilidade em relevância”, concluiu. Nesse cenário, as gemas deixam de ser apenas produtos e passam a ser portadoras de histórias, de impacto positivo e de propósito, criando valor que vai muito além do material.

A evolução da mineração de esmeraldas: de caça ao tesouro a operações modernas e sustentáveis

Painel “A sorte não é um plano de negócios: a evolução da mineração de esmeraldas, da caça ao tesouro às operações subterrâneas modernas”. Vincent Pardieu, gemólogo de campo. Foto: Paulo Negreiros.

No painel “A sorte não é um plano de negócios: a evolução da mineração de esmeraldas, da caça ao tesouro às operações subterrâneas modernas” (Luck Is Not a Business Plan: The Evolution of Emerald Mining from Treasure Hunting to Modern Underground Operations), Vincent Pardieu, gemólogo de campo reconhecido mundialmente, trouxe uma visão contundente sobre a transformação da mineração de esmeraldas. Ele iniciou explicando como, historicamente, a indústria funcionava baseada na sorte — um modelo no qual garimpeiros e comerciantes dependiam do acaso para encontrar pedras valiosas. Essa prática, muitas vezes, gerava ambientes caóticos, sobrecarregados por milhares de pessoas competindo pelo mesmo recurso, sem controle, segurança ou planejamento eficiente.

Pardieu detalhou como a profissionalização da mineração foi, aos poucos, substituindo esse modelo informal. Um dos exemplos mais marcantes é o da mina de Muzo, na Colômbia, que evoluiu de um garimpo tradicional para uma operação subterrânea altamente tecnológica. A construção de túneis, o uso de equipamentos pesados, softwares de modelagem 3D e uma equipe dedicada de geólogos são hoje pilares fundamentais para garantir a segurança, a eficiência e a continuidade da produção. Essa transição não só melhorou as condições de trabalho, mas também possibilitou a extração responsável e regular de esmeraldas, mesmo em jazidas que já foram exploradas por séculos.

Por fim, Pardieu reforçou que o futuro da mineração de gemas depende de três pilares: geologia para encontrar os depósitos, engenharia para minerá-los de forma viável e gestão para transformar esses recursos em valor sem comprometer o meio ambiente ou as comunidades locais. Ele destacou a necessidade urgente de mais investimentos em ciência — não apenas em geologia, mas também em ciências sociais e humanas — para compreender tanto os depósitos quanto as dinâmicas socioculturais das regiões mineradoras. Sem esse tripé bem estruturado, afirmou, qualquer operação está destinada à sorte.

ICA Congress 2025 celebra conexões, legados e um futuro de oportunidades

Damien Cody, presidente do ICA, faz discurso de encerramento no ICA Congress 2025. Foto: Paulo Negreiros.

No discurso de encerramento do ICA Congress 2025, Damien Cody, presidente do ICA, destacou o sucesso do evento realizado no Brasil. Agradeceu pela participação massiva e pelo engajamento dos congressistas, classificando este como um dos congressos com painéis mais frequentados que já presenciou em seus 11 anos de participação na entidade. “Aqui no Brasil, fomos informados, inspirados, entretidos e, acima de tudo, acolhidos com uma generosidade incrível”, afirmou. Ele reforçou que o tema “Gems for Generations” não foi apenas um slogan, mas um sentimento que permeou todo o encontro.

Cody fez questão de reconhecer publicamente o trabalho dos organizadores, patrocinadores, equipe local, tradutores, voluntários e da comunicação, além de destacar a dedicação dos palestrantes, que entregaram apresentações de altíssimo nível. “Organizar um evento como este exige um verdadeiro exército. E juntos, mostramos que com colaboração e trabalho em equipe, coisas extraordinárias podem acontecer”, declarou. Ele também conduziu um momento especial de agradecimento aos membros que estão deixando o conselho da ICA e deu as boas-vindas aos novos integrantes, celebrando a renovação e o fortalecimento da liderança da entidade.

Encerrando sua fala, Cody reforçou que o ICA Congress 2025 não apenas fortaleceu laços profissionais e comerciais, mas também consolidou amizades e reafirmou o compromisso da indústria com um futuro sustentável, colaborativo e promissor.