
informa
Sustentabilidade, inovação e novos mercados: os rumos do comércio global de gemas no ICA Congress 2025
Publicado em 21/05/2025Painéis discutem como ESG, tecnologia, tendências de consumo e mudanças regulatórias estão redefinindo a indústria de gemas e joias no Brasil e no mundo.

O mestre de cerimônias e consultor de educação em gemas Rui Galopim de Carvalho abre o segundo dia de painéis do ICA Congress 2025
O segundo dia do ICA Congress 2025, realizado nesta terça-feira (21), foi marcado por debates que evidenciaram uma indústria em plena transformação. De um lado, o Brasil se mostra cada vez mais preparado para atrair investimentos, com um ambiente regulatório mais estruturado, ferramentas públicas de informação geológica e um forte compromisso com práticas sustentáveis. Do outro, os mercados globais, especialmente a China, vivem uma rápida evolução impulsionada por mudanças no comportamento dos consumidores, pela ascensão do live commerce e pelas exigências crescentes por rastreabilidade e responsabilidade socioambiental.
Além disso, os desafios impostos por tarifas, sanções internacionais e mudanças geopolíticas também foram tema de destaque, trazendo alertas importantes para quem atua no comércio global de gemas e joias.
Brasil pronto para atrair investimentos: ambiente regulatório, informação acessível e compromisso com sustentabilidade são destaques do primeiro painel do dia

Painel “Liberando o potencial dos investimentos em mineração no Brasil”. Da esq. à dir., Giorgio de Tomi, Marcos Vale, Marcelo Ribeiro e Stella Guimarães.
No painel “Liberando o potencial dos investimentos em mineração no Brasil” (Unlocking the Potential of Mining Investments in Brazil), o moderador professor Giorgio de Tomi, diretor do Centro de Mineração Responsável da USP,destacou o objetivo da discussão: mostrar que o Brasil está preparado para expandir seu setor de gemas e fazer dele uma alavanca para o desenvolvimento sustentável. “Essa é a nossa motivação hoje”, afirmou ao iniciar o debate, que contou com a presença de especialistas em mineração, geociências e investimentos internacionais.
Marcelo Ribeiro, CEO da Belmont e presidente do ICA Congress 2025 no Brasil, reforçou a maturidade da indústria brasileira: “O Brasil é um produtor bastante desenvolvido. (…) E isso levou a um avanço muito grande do compliance, que nos orgulha muito.” No entanto, pontuou que “esse compliance é também uma barreira de entrada”, especialmente para a mineração artesanal, origem de “praticamente todas as minas”.
Ele citou o avanço tecnológico como diferencial competitivo: “Nos últimos anos, nós tivemos uma certa estagnação na produção global total de gemas para exportação, no entanto, praticamente triplicamos nossas exportações de esmeraldas. Isso graças a muito investimento feito, principalmente em tecnologia.” Para o futuro, apontou dois caminhos possíveis: o de desburocratizar e o de parcerias, como entre a Agência Nacional de Mineração (ANM), Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e B3 (Bolsa de Valores sediada no Brasil). E finalizou lembrando: “Mineração é um investimento de médio a longo prazo. (…) E a sociedade não aceita mais que seja feito de qualquer forma”.
Stella Guimarães, pesquisadora em geociências do Serviço Geológico do Brasil (SGB), destacou a riqueza geológica do país: “O Brasil é um país privilegiado pela sua diversidade de ambientes geológicos.” Ela apresentou a plataforma pública Plataforma de Planejamento da Pesquisa e Produção Mineral (p3mgeo.sgb.gov.br), alimentada com dados atualizados de ocorrência de gemas de cor, diamantes, metais no Brasil, como ferramenta estratégica para investidores: “É uma plataforma riquíssima. (…) Qualquer pessoa pode acessá-la”. E reforçou a importância da rastreabilidade e do fortalecimento de cooperativas: “As gemas brasileiras rastreadas e extraídas com responsabilidade têm um potencial enorme para ganhar muito espaço no mercado internacional.” Como reflexão final, afirmou: “O Brasil, historicamente, ele já é uma joia, né? Mas assim como toda gema, ela precisa de uma lapidação. E uma lapidação sempre com estratégia.”
Marcos Vale, executivo da ApexBrasil para investimentos internacionais, trouxe a perspectiva do investidor estrangeiro. Reconheceu que há desafios, como o licenciamento e a volatilidade cambial, mas afirmou que “o Brasil tem demonstrado ser um ambiente seguro, cheio de oportunidades viáveis.” Ele reforçou que “os modelos de investimento que têm planejamento e compromisso, de médio e longo prazo com o Brasil, têm conseguido superar esse desafio”.

Painel “Liberando o potencial dos investimentos em mineração no Brasil”. Da esq. à dir., Giorgio de Tomi, Marcos Vale, Marcelo Ribeiro e Stella Guimarães.
Sobre o futuro, destacou a importância de levar desenvolvimento às regiões mineradoras: “A mineração, como todos sabem, não está em São Paulo, no Rio de Janeiro, ela está nas cidades com IDH muito baixo.” E concluiu: “A gente tem buscado investimentos que têm já no seu lastro esse tipo de preocupação, de não só diálogo com as comunidades locais, como uma preocupação de impacto social forte”.
GIA e o legado da confiança: 94 anos formando gerações, promovendo inovação e impulsionando a responsabilidade na indústria de gemas e joias

Susan Jacques, CEO do GIA (Gemological Institute of America)
Susan Jacques, CEO do GIA (Gemological Institute of America), abriu sua apresentação no painel “Gerações de Maravilhas” (Generations of Wonder) destacando o papel transformador da instituição desde sua fundação em 1931. “Nosso propósito e visão são inspirar um mundo de confiança em gemas e joias”, afirmou. Com mais de 94 anos de história, o GIA é referência global em educação, pesquisa científica, serviços laboratoriais e desenvolvimento de instrumentos, sempre com foco na integridade e na construção de confiança entre os profissionais da indústria e os consumidores. Susan enfatizou o impacto da formação oferecida pela instituição, que vai desde o programa GemKids, voltado para instigar o interesse em crianças, até cursos de pós-graduação que já prepararam mais de 360 mil profissionais em dezenas países. “Uma educação GIA muda vidas, gera carreiras e transforma comunidades”, disse.
A executiva destacou também a atuação científica do GIA, que mantém a maior coleção de gemas com origem documentada do mundo — uma ferramenta essencial para a identificação, certificação e rastreabilidade de gemas. “Coletamos material bruto diretamente em campo e trazemos esses materiais para estudo”, explicou. Esse compromisso com a origem é central para o trabalho da organização, que também desenvolve soluções educacionais e tecnológicas acessíveis a pequenos produtores e comunidades mineradoras. Susan citou iniciativas como os programas de capacitação em Madagascar e no Quênia, que combinam treinamentos em lapidação e práticas sustentáveis com suporte social direto: “Eles aprendem habilidades que geram renda, autoestima e oportunidades. Isso é empoderamento.”
Por fim, Susan anunciou novidades para a atuação do GIA no Brasil, incluindo o lançamento do capítulo brasileiro do GIA Alumni Collective, que pretende fortalecer a rede de ex-alunos e profissionais no país. Também compartilhou avanços tecnológicos, como a introdução de um novo espectrômetro portátil e o uso de inteligência artificial nos laboratórios. “O mundo está mudando e o GIA está evoluindo junto. Temos que preparar a próxima geração para uma indústria que é global, conectada e que exige cada vez mais responsabilidade”, afirmou. E concluiu com um chamado à ação: “A melhor forma de prever o futuro é criá-lo. E isso exige confiança, compromisso, compaixão e coragem.”
“Tenders” como caminho estratégico para profissionalizar, valorizar e conectar a cadeia de gemas de cor no mercado global

Tim Denning, diretor da divisão de gemas de cor do Bonas Group
Tim Denning, diretor da divisão de gemas de cor do Bonas Group, apresentou uma análise detalhada no painel “Fortalecendo a indústria de pedras preciosas coloridas: os benefícios das licitações, da mineração à fabricação” (Empowering the Coloured Gemstone Industry: The Benefits of Tenders from Miner to Manufacture) sobre como o modelo de “tenders” (vendas por proposta fechada) pode transformar o mercado de gemas de cor, da mina até a manufatura.
Com quase três décadas de atuação no setor, Tim compartilhou a trajetória do Bonas Group, fundado em Londres durante a corrida dos diamantes nos anos 1870 e hoje considerado o maior organizador independente de tenders de diamantes e gemas do mundo. “Hoje, somos os únicos a atuar com ambos — diamantes e gemas — em centros estratégicos como Bangkok, Dubai e Antuérpia”, destacou. Ao abordar a transição da empresa para o setor de gemas de cor, explicou: “Acreditamos que a indústria de gemas de cor está pelo menos 20 anos atrás da de diamantes, mas temos usado nossa experiência para reduzir essa distância.”
Ao explicar o funcionamento do modelo, Denning diferenciou o tender do leilão tradicional: “Um tender é uma venda em ambiente fechado, onde o comprador faz sua oferta com base no valor que acredita ser adequado para fabricar ou revender com margem.” Ele destacou que esse formato oferece benefícios tanto para grandes quanto para pequenos mineradores, gerando mais visibilidade, competição entre compradores e dados de mercado valiosos. “Belmont e Gemrock são exemplos de mineradoras que aumentaram sua exposição e valor de mercado após adotarem o sistema de tenders.”
Tim também enfatizou os ganhos em compliance e rastreabilidade promovidos pelos tenders, fatores cada vez mais exigidos por marcas e consumidores. “Conduzimos processos rígidos de ‘conheça seu cliente’ e ‘conheça seu fornecedor’ e não hesitamos em impedir a participação de quem não cumpre nossos padrões.” Além disso, explicou como o trabalho de triagem e classificação das gemas é essencial para criar consistência entre os lotes e gerar confiança nos compradores. Finalizando, Tim reconheceu que há desafios — como a variação de oferta e o fluxo de caixa limitado entre ciclos de vendas —, mas reforçou que o formato de venda é uma ferramenta poderosa para dar coesão a um mercado fragmentado. “Tenders oferecem um caminho transparente para o mercado, promovendo confiança ao longo de toda a cadeia.”
Práticas éticas e responsabilidade ambiental na indústria de gemas

Painel “Valor Sustentável: Práticas Éticas e Responsabilidade Ambiental na Indústria de Pedras Preciosas”. Da esq. à dir., Douglas Hucker, Johanna Levy, Miriam Mimo Kamau Caplan, Gianluca Maina e Brian Cook.
Durante o painel “Valor Sustentável: Práticas Éticas e Responsabilidade Ambiental na Indústria de Pedras Preciosas” (Sustaining Value: Ethical Practices and Environmental Responsibility in the Gemstone Industry), o moderador Douglas Hucker, CEO da ICA, conduziu a conversa reforçando que sustentabilidade é uma preocupação cada vez mais presente nas gerações atuais e futuras. Ele destacou que, mesmo que nem todos estejam diretamente envolvidos em projetos no campo, fazer parte da ICA já é uma forma de apoiar essas iniciativas. “Se você tem envolvimento com isso, também está dando suporte à sustentabilidade. É um esforço conjunto”, afirmou. Douglas também incentivou designers e profissionais iniciantes a começarem sua jornada fazendo perguntas simples sobre a cadeia de suprimentos, defendendo que projetos sustentáveis devem envolver e beneficiar as comunidades locais desde o início.
Johanna Levy, vice-presidente de ESG do GIA, trouxe dados relevantes sobre o interesse crescente dos consumidores por sustentabilidade, especialmente entre os mais jovens: “45% das pessoas de 18 a 39 anos pedem mais informações sobre as joias”. No entanto, ela alertou que esses consumidores têm pouco conhecimento sobre a complexidade da cadeia produtiva de gemas e, muitas vezes, acreditam que o joalheiro conhece toda a origem do produto. Ao abordar como iniciar projetos sustentáveis, Johanna aconselhou: “Eu tento não reinventar a roda… construa algo em cima do que já existe”. Ela também reforçou a importância de usar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU como referência, destacando que muitos estão atrasados, especialmente por conta da pandemia de COVID-19, e precisam de ação urgente.
Gianluca Maina, diretor de marketing global da Fura, compartilhou a abordagem da empresa em Moçambique, onde desenvolveram estudos de base para entender a comunidade local. “Percebemos que nenhum projeto que seja feito sem contribuição da comunidade será exitoso.” Ele explicou que projetos com envolvimento comunitário tendem a ter mais longevidade e que seu objetivo é criar resiliência econômica local. Sobre sustentabilidade na criação de joias, foi direto: “Auditar e fazer com que todas as cadeias do processo sejam sustentáveis e confiáveis”.
Miriam Mimo Kamau Caplan, fundadora da Mimo Gem Trader, destacou o projeto Kamtonga, no Quênia, e reforçou o que representa estar ao lado da comunidade: “A comunidade sou eu. Então é uma honra servir a comunidade.” Ela explicou como a cultura africana de retribuição facilita o engajamento com a comunidade e tornou o projeto autossustentável. Sua atuação envolve desde treinamentos até doações de roupas e calçados com a marca da ICA, promovendo dignidade e orgulho nas regiões de mineração.

Painel “Valor Sustentável: Práticas Éticas e Responsabilidade Ambiental na Indústria de Pedras Preciosas”. Da esq. à dir., Douglas Hucker, Miriam Mimo Kamau Caplan, Johanna Levy, Gianluca Maina e Brian Cook.
Por fim, Brian Cook, geólogo e fundador da Nature’s Geometry, compartilhou sua longa trajetória de envolvimento com projetos sustentáveis na Bahia. Ele destacou a importância de formalizar garimpeiros, promover saúde e segurança, igualdade de gênero e segurança alimentar. “Estamos ensinando a cultivar comida boa e sequestrando carbono pela agricultura em pequena escala.” Brian também chamou atenção para a necessidade de acelerar os processos de legalização e apoio aos pequenos mineradores no Brasil, que oferecem diversidade de gemas e têm potencial de impulsionar o setor se houver políticas públicas mais ágeis e inclusivas.
Como atender às novas regras e às expectativas dos consumidores na indústria de gemas e joias

Johanna Levy, vice-presidente de ESG do GIA
No painel “Roteiro de sustentabilidade na indústria de pedras preciosas e joias: como se antecipar a novas regulamentações e mudanças no comportamento do consumidor”(Sustainability roadmap in the gem & jewelry Industry: how to anticipate new regulations and changing consumer behaviors), Johanna Levy, vice-presidente de ESG do GIA, apresentou um panorama prático sobre como a sustentabilidade deixou de ser uma opção e se tornou uma exigência para o setor.
Ela começou destacando que, apesar de uma certa retaliação recente contra pautas ESG em alguns mercados, 89% das empresas continuam comprometidas com programas de sustentabilidade, pois, além do impacto positivo, isso faz sentido para os negócios. Dados mostram que 64% dos consumidores já consideram sustentabilidade um dos três fatores mais importantes na decisão de compra, e 54% estão dispostos a pagar um valor adicional por produtos sustentáveis — embora esse acréscimo precise ser realista, já que, em média, aceitam pagar até 5%, enquanto os produtos costumam ter um sobrepreço de 28%.
Outro ponto crucial abordado foi o avanço das regulações, especialmente na Europa, que obrigam empresas a reportarem seus impactos ambientais, sociais e de governança. Johanna explicou o conceito de dupla materialidade, que exige que as empresas avaliem tanto os impactos que causam no meio ambiente e na sociedade, quanto os riscos que esses fatores representam para seus próprios negócios. Ela também apresentou ferramentas gratuitas e acessíveis para calcular a pegada de carbono — considerando desde as emissões diretas (escopos 1 e 2) até a cadeia produtiva (escopo 3) que, geralment,e representa até 98% das emissões na indústria de joias e gemas.
Por fim, Johanna reforçou que a rastreabilidade e o compromisso com direitos humanos, biodiversidade e segurança ambiental são pilares fundamentais de qualquer negócio no setor atualmente. “A sustentabilidade não é só sobre salvar o planeta, é sobre garantir que seu negócio sobreviva no longo prazo”, destacou. Ela finalizou enfatizando que marcas e varejistas precisam investir na construção de narrativas autênticas, capacitação de suas equipes e comunicação clara com os consumidores, pois esses são os elementos que, de fato, geram valor e diferenciação no mercado.
China em transformação: como a nova geração e o live commerce estão redefinindo o mercado de gemas em 2025

Andrew Lucas, presidente e cofundador do Guild Institute of Gemology
O mercado chinês de gemas passa por uma fase de rápidas transformações, marcada por desafios na oferta e mudanças no comportamento dos consumidores. Andrew Lucas, presidente e cofundador do Guild Institute of Gemology, destacou no painel “Mercado de Pedras Preciosas da China em 2025: Tempo de Mudanças e Oportunidades” (2025 China Gemstone Market: Time of Changes and Opportunities) que a escassez global de gemas de alta qualidade — como rubis, esmeraldas e safiras — tem impactado diretamente o mercado na China, gerando resistência dos consumidores aos altos preços.
Para suprir essa demanda, cresceu a circulação de gemas vindas do mercado de segunda mão, principalmente do Japão, além de um aumento na comercialização de materiais tratados. Lucas ressaltou que, embora práticas como a não divulgação de tratamentos ainda ocorram, a disseminação rápida de informações nas redes sociais chinesas funciona como um eficiente mecanismo de proteção ao consumidor, forçando o mercado a se regular com agilidade.
Outro ponto central do painel foi a evolução no gosto dos consumidores chineses. Lucas explicou que, historicamente muito exigentes com coloração e procedência, os compradores mais jovens começaram a aceitar gemas de tonalidades um pouco mais leves, especialmente no caso das esmeraldas de verde intenso, que ganham mais destaque nas transmissões ao vivo e nas redes sociais.
Esse movimento foi decisivo para aumentar a aceitação de materiais do Paquistão e de outras origens que antes eram menos valorizadas. Além disso, o mercado tem respondido rapidamente a tendências de preço, migrando de uma gema para outra. Quando o preço da safira azul disparou, por exemplo, houve um crescimento expressivo na procura por safiras de outras core, como violetas, amarelas e rosas, além de uma retomada surpreendente do interesse por rubelitas, que estavam praticamente rejeitadas desde o colapso de mercado anos atrás.
Por fim, Lucas destacou o impacto avassalador dos influenciadores e das vendas por live streaming no mercado chinês de gemas. Um dado apresentado é que 62% dos alunos dos cursos gemológicos do instituto são influenciadores digitais, muitos sem nenhuma ligação anterior com o setor de joias. Esses profissionais se deslocam até minas no Sri Lanka, Paquistão, Indonésia e outros países para criar conteúdo, vender diretamente aos consumidores chineses e contar a história das gemas desde a origem. Eventos como o Aurora, organizado pelo Guild Institute, chegaram a mobilizar mais de 84 milhões de visualizações na China, demonstrando que o modelo de negócios baseado em storytelling, transparência e conexão direta com a fonte está moldando o futuro do mercado chinês de gemas e criando, assim, um espaço de oportunidades para quem souber entender e se adaptar a essa nova dinâmica.
O Impacto das tarifas e sanções no comércio global de gemas

Sara E. Yood, presidente, CEO e conselheira geral do Comitê de Vigilância de Joalheiros (JVC)
Sara E. Yood, presidente, CEO e conselheira geral do Comitê de Vigilância de Joalheiros (JVC), abriu o painel “O preço da passagem: o que sanções e tarifas significam para o comércio de gemas” (The Price of Passage: What Sanctions and Tariffs Mean for Gemstone Trade) contextualizando a história dos tarifários nos Estados Unidos e explicando como, historicamente, eles serviram como principal fonte de arrecadação e proteção à indústria local.
Contudo, ela destacou que o cenário atual é muito mais complexo e caótico, principalmente pela utilização do International Emergency Economic Powers Act (IEEPA), que permite ao presidente impor tarifas de forma unilateral durante situações classificadas como “emergências nacionais”. Segundo ela, foi exatamente esse instrumento que justificou as tarifas aplicadas a produtos do Canadá, México e, principalmente, da China — muitas delas sem passar pelos processos normais de consulta pública, revisão legislativa ou intermediação da Organização Mundial do Comércio (OMC).
O impacto direto dessas medidas no comércio de gemas ficou evidente na série de exemplos práticos que Sara trouxe, ilustrando a confusão gerada na cadeia global. Ela explicou como conceitos como “substantial transformation” (transformação substancial) determinam a origem legal de um produto e, consequentemente, as tarifas aplicáveis. Detalhou, por exemplo, que uma pedra lapidada na Índia, mesmo que minerada na África, passa a ter como país de origem a Índia para fins de tarifação. Soma-se a isso a eliminação do limite de isenção de US$800 para produtos vindos da China, o que afetou diretamente pequenos envios e transações no e-commerce, especialmente de gemas. Além disso, destacou que as tarifas não são fixas — podem variar rapidamente — e que, muitas vezes, sobrepõem-se a sanções já existentes, como no caso de gemas de origem birmanesa e diamantes russos.
Por fim, Sara alertou para a instabilidade e insegurança jurídica que esse cenário cria. O risco de escaladas repentinas de tarifas, sem aviso prévio, traz consequências para toda a cadeia: desde atrasos no desembaraço aduaneiro até a interrupção de fluxos comerciais. Ela reforçou a importância de empresas que atuam ou vendem para os EUA manterem contato com despachantes aduaneiros, acompanharem seu Tariff Tracker — ferramenta criada pelo JVC para atualizar em tempo real as mudanças nas tarifas — e, principalmente, se manterem informadas e engajadas com as representações comerciais e legislativas de seus países. Segundo Sara, a mensagem é clara: “o cenário é complexo, instável e, por isso mesmo, planejamento e informação serão as chaves para enfrentar essa nova realidade do comércio internacional de gemas.”
Mercado de esmeraldas colombianas: desafios atuais e como os elementos químicos influenciam na cor

Painel “Atualização do mercado de esmeraldas colombianas e variações no conteúdo de elementos cromóforos em esmeraldas colombianas e suas implicações para a cor”.
Guillermo Galvis, presidente da Associação Colombiana de Exportadores de Esmeraldas (Acodes) iniciou o painel “Atualização do mercado de esmeraldas colombianas e variações no conteúdo de elementos cromóforos em esmeraldas colombianas e suas implicações para a cor” (Colombian Emerald Market Update & Variations in the content of Chromophore Elements in Colombian Emeralds and their Implications for Color) trazendo um panorama do mercado de esmeraldas na Colômbia.
Segundo ele, o setor teve nos últimos dois anos alguns dos melhores números das últimas duas décadas, com exportações que giraram entre US$ 124 milhões e US$ 140 milhões por ano, resultados muito positivos, considerando especialmente os impactos causados pela pandemia. No entanto, ele também alertou que o cenário para 2025 tende a ser mais desafiador, pois o volume de esmeraldas saindo do país caiu significativamente. Muitas pedras estão sendo mantidas dentro da Colômbia, com poucos volumes sendo exportados. Ele destacou ainda a forte variação dos preços, que, embora tenha crescido ao longo dos anos, sofre influência direta da oferta de gemas de alta qualidade em determinados períodos.
Na sequência, Javier Garcia Toloza, diretor da Acodes, aprofundou a discussão com dados científicos sobre como a composição química das esmeraldas colombianas impacta diretamente suas características de cor. Ele explicou que as esmeraldas da Cordilheira Oriental possuem processos geológicos específicos que determinam variações significativas nos elementos cromóforos — especialmente cromo, vanádio e ferro. Segundo ele, as esmeraldas do setor leste da cordilheira apresentam menores concentrações de ferro (geralmente inferiores a 100 ppm), o que resulta em tons de verde mais puros e intensos. Já no setor oeste, os níveis de ferro são significativamente mais altos, chegando a cerca de 800 ppm, o que confere às gemas tons ligeiramente mais azulados e menos saturados.
Javier também destacou que esses dados são fundamentais não só para compreender a formação geológica das esmeraldas colombianas, mas também para explicar ao mercado e aos consumidores as diferenças de cor e, consequentemente, de valor entre as gemas. A pesquisa mostrou que além da composição mineral, outros fatores, como a presença de compostos orgânicos e a intensidade dos processos metamórficos, desempenham um papel crucial na coloração final das pedras. O entendimento mais profundo dessas variações permite não apenas agregar valor às esmeraldas, como também oferecer informações técnicas precisas para joalheiros, compradores e gemólogos, contribuindo para a valorização e transparência do mercado colombiano.
Sustentabilidade, inovação e adaptação às novas dinâmicas globais
Os debates do segundo dia do ICA Congress 2025 deixaram claro que o futuro da indústria de gemas será guiado por três pilares fundamentais: sustentabilidade, inovação e adaptação às novas dinâmicas globais. Seja no fortalecimento da rastreabilidade, no uso de tecnologias como inteligência artificial, na profissionalização da cadeia com modelos como os tenders ou no entendimento das nuances geológicas que influenciam o valor das gemas, uma coisa é certa: quem não estiver preparado para alinhar seus negócios às exigências de responsabilidade socioambiental, transparência e às novas formas de consumo ficará para trás. O evento reafirma que, mais do que nunca, informação, planejamento e colaboração internacional serão as chaves para prosperar no mercado global de gemas e joias.