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O impacto prolongado do isolamento social na economia

Publicado em 26/03/2020

Uma analogia entre as crises de 2008 e do Covid-19 como forma de buscar possibilidades para dar uma injeção de ânimo na economia.

Por Ecio Morais

Como não poderia deixar de ser, o governo federal e dos estados tem formulado dezenas de medidas emergenciais para minimizar o impacto do isolamento social na economia real. São medidas como postergar o pagamento de impostos, subsidiar pagamento de salários, dar liquidez ao sistema bancário, entre outras.

Muita gente tem se perguntado como o governo vai pagar essa conta? O orçamento público vai “explodir”, o Estado Brasileiro vai entrar em colapso, etc. Antes de adentrarmos no tema da crise atual, vamos lembrar um pouco sobre o impacto da crise de 2008 nos orçamentos públicos. Naquela ocasião, em 2008, para salvar o sistema financeiro do colapso (a crise do sub-prime foi uma crise de crédito), os Bancos Centrais do mundo todo, através dos QE (Quantitative Easing) injetaram trilhões de dólares no sistema. Em bom português, o que os BCs fizeram foram “imprimir” papel moeda “sem lastro” e irrigar a economia.

Até então, os manuais de economia profetizavam que a inflação iria explodir, já que ela, segundo os livros textos tradicionais, era um fenômeno essencialmente monetário. No entanto, o que aconteceu, além de um brutal endividamento público? Resposta: nada, ou melhor, exatamente o contrário. A inflação, há mais de dez anos, rasteja em torno de 2% no mundo desenvolvido, a taxa de juros se encontra próxima de zero, etc. Esse fato demoliu a sabedoria convencional, o ensino da macroeconomia no mundo acadêmico e volta a assombrar, com a crise do Covid-19, o conhecimento estabelecido.

Em apertadíssima síntese, a leitura que se faz é que para o Estado que emite sua própria moeda, se não houver restrições de oferta física no mercado, não há restrição para ampliação da base monetária. Se é possível emitir moeda para salvar o sistema financeiro, porque não emiti-la, claro que com responsabilidade e suporte técnico, para promover o saneamento básico e salvar vidas?   Para quem gosta do tema, sugiro ler os últimos livros do economista Andre Lara Resende, um dos pais do Plano Real.

Como todos sabem, o poder de emitir moeda é do Estado soberano. Assim como é também do Estado o poder de polícia para decretar estado de calamidade pública, imprimir o isolamento social e, em última instância, atender os mais vulneráveis. Cabe, também, ao setor público (Executivo, Legislativo e Judiciário) a responsabilidade por articular uma estratégia de desmobilização, de saída de situações como a que vivenciamos atualmente. A ÚLTIMA COISA QUE PRECISAMOS NESSE MOMENTO É DE UMA CRISE POLÍTICA.

A crise de 2008 já demonstrou que devemos reconsiderar o papel reservado ao Estado na economia contemporânea. Questões relativas ao meio ambiente, epidemias e regulamentação do sistema financeiro são sérias demais para deixar sobre responsabilidade exclusiva do mercado. Nesse sentido, o governo federal, dos estados e dos municípios, cada um com sua cota de responsabilidade, podem sim nos ajudar a sair desse sufoco. Depois de tudo isso haverá uma conta para pagar. E assim o faremos com muito trabalho, mas não com vidas humanas.

Escrevo no dia 26 de março, às 13h. Segundo as últimas informações, Nova Iorque está conseguindo conter a curva de disseminação do vírus, na China a contaminação interna está sobre controle e no Brasil os casos de contaminação também vêm caindo. Dia 07 de abril está programado o inicio do fim da quarentena.

Não vamos nos dispersar. #Vai Passar.