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IBGM participa do centenário da CIBJO e compartilha os principais temas debatidos sobre governança, sustentabilidade e inovação na joalheria global
Publicado em 25/11/2025Roseli Duque, presidente do Conselho do IBGM participou de congresso em Paris, que reuniu líderes do setor e definiu novos marcos para ética, padronização, ESG e transformação tecnológica na cadeia de valor das joias.
São Paulo, 3 de novembro de 2025.
O Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM), representado por Roseli Duque, presidente do Conselho da instituição, participou do Congresso Mundial da CIBJO (Confederação Internacional de Joalheria), realizado entre 27 e 29 de outubro, em Paris, que marcou o início das comemorações do centenário da entidade, fundada em 1926. O encontro reuniu mais de 250 representantes da indústria global de joias e consolidou a CIBJO como o principal fórum internacional de governança, padronização técnica e sustentabilidade na cadeia produtiva de gemas, metais e joias.

Roseli Duque, presidente do Conselho do IBGM, na abertura do CIBJO.
Como representante do setor brasileiro, o IBGM acompanhou as discussões e compartilha os principais temas debatidos durante o congresso, que apontam tendências e desafios estratégicos para a joalheria mundial.
Padrões, ética e papel institucional da CIBJO
Na abertura do congresso, o presidente da CIBJO, Gaetano Cavalieri, reforçou a trajetória da entidade na harmonização de normas técnicas e terminologia, consolidando-a como o “parlamento da indústria de joias”. A CIBJO, reconhecida pela ONU desde 2006 como organismo consultivo do ECOSOC, mantém papel central na definição de padrões éticos, técnicos e de nomenclatura que orientam toda a cadeia global.

Gaetano Cavalieri, presidente da CIBJO – World Jewellery Confederation, discursando na sessão de abertura do Congresso da CIBJO.
Representantes de entidades francesas, como a UFBJOP e a Françéclat, destacaram a relevância da excelência artesanal e da inovação tecnológica para a manutenção dos mais altos padrões de qualidade. O presidente da Cartier, Cyrille Vigneron, enfatizou a responsabilidade ética e o compromisso com a “verdade científica” como pilares da credibilidade do setor.

Da esq. à dir., Bernadette Pinet Cuoq, presidente-executiva da UFBJOP, Gaetano Cavalieri, presidente da CIBJO, e Roseli Duque, presidente do Conselho do IBGM.
Sustentabilidade e ESG: ferramentas práticas e integração setorial
A sustentabilidade foi um dos eixos centrais do congresso. A Comissão de Desenvolvimento Sustentável da CIBJO, liderada por John Mulligan (World Gold Council), apresentou ferramentas práticas para apoiar empresas na implementação de políticas ESG. Entre elas, um Guia de Sustentabilidade e Kit de Ferramentas, a ser publicado em 2026, e o modelo de Avaliação de Dupla Materialidade, que será disponibilizado gratuitamente.
As discussões apontaram a necessidade de integrar a sustentabilidade à estratégia de negócios, transformar compromissos em ações e fortalecer parcerias intersetoriais e intergeracionais. O painel também abordou desafios recentes, como a desaceleração no avanço de metas ESG e o fenômeno do greenhushing, observado em alguns mercados.
Nomenclatura e o avanço da Blue List
O congresso apresentou atualização do projeto Blue List, iniciado em 2019, que reúne recomendações sobre terminologia responsável para produtos e processos na cadeia de suprimentos. O documento busca eliminar ambiguidades em expressões como “sustentável”, “ético” e “responsável”, além de esclarecer conceitos como “rastreabilidade” — destacando que blockchain é apenas uma ferramenta, e não sinônimo do termo.

Primeiro exemplar do projeto Blue List, iniciado em 2019, que reúne recomendações sobre terminologia responsável para produtos e processos na cadeia de suprimentos.
Foram definidos termos a evitar, como “eco-friendly”, “amigo do meio ambiente”, “biodegradável” e “verde”, por falta de precisão técnica. A primeira edição oficial da Blue List foi adiada para o primeiro trimestre de 2026, após revisão decorrente da consulta pública internacional.
Diamantes sintéticos e terminologia padronizada
A Comissão de Diamantes da CIBJO abordou a necessidade de padronização na comunicação sobre diamantes sintéticos. A diretora-executiva da UFBJOP, Bernadette Pinet-Cuoq, defendeu a substituição do termo “laboratory-grown” por “diamantes sintéticos”, considerando que o processo de produção ocorre em fábricas industriais.

Da esq. à dir., Bernadette Pinet Cuoq, presidente-executiva da União Francesa de Joalheiros (UFBJOP), Ourivesaria, Pedras Preciosas e Pérolas, Daniel Cambour, presidente da UFBJOP, e Roseli Duque, presidente do Conselho do IBGM.
As discussões reforçaram a preocupação com a confusão do consumidor entre diamantes naturais e sintéticos, destacando a importância de narrativas transparentes sobre origem, valor social e impacto das cadeias de mineração.
Impactos geopolíticos e preços dos metais preciosos
Painéis sobre conjuntura internacional destacaram os efeitos das tarifas de importação dos Estados Unidos e das sanções à Rússia, que alteraram fluxos comerciais e impactaram a competitividade do setor. As tarifas sobre diamantes processados na Índia — que hoje enfrenta taxas de até 50% — foram apontadas como fator de pressão sobre custos e consumo.

Painel sobre o impacto da geopolítica na joalheria (da esq. à dir): Avi Krawitz, moderador; Karen Rentmeester, CEO da AWDC; Feriel Zerouki, diretora de comércio e indústria do Grupo De Beers e presidente do Conselho Mundial de Diamantes (WDC); Raluca Anghel, chefe de assuntos externos e relações com a indústria do Conselho de Diamantes Naturais; Sara Yood, CEO e conselheira jurídica do Comitê de Vigilância de Joalheiros; e Edward Asscher, vice-presidente da RJC.
O aumento do preço do ouro, impulsionado pela demanda de bancos centrais, foi identificado como um desafio estrutural para o setor, ao mesmo tempo em que se observam novas oportunidades para a platina, que ganha espaço como alternativa de valor e sustentabilidade.
Inteligência Artificial e transformações na cadeia produtiva
A Comissão de Tecnologia da CIBJO apresentou relatório sobre os impactos da Inteligência Artificial (IA) no setor de joias. Foram projetadas mudanças profundas em áreas como classificação de diamantes, testes gemológicos e design, com substituição parcial de funções manuais e criação de novas ocupações técnicas.

Painel que discutiu os impactos da IA, tanto positivos quanto negativos, no setor joalheiro (da esq. à dir.): David Brough, Jewellery Outlook, moderador; Marie Christine Grocq Parruitte, presidente do grupo MCGP; Stephane Fischler, presidente do Comitê de Tecnologia da CIBJO; David Block, CEO da Sarine Technologies; Daniel Nyfeler, CEO do Gübelin Gem Lab; Mahiar Borhanjoo, diretor-comercial do Grupo De Beers; Jacques Voorhees, CEO da Icecap,AI; Lisa Koenigsberg, presidente da Initiatives in Arts & Culture; e Jon Key, fundador e diretor administrativo da Key and Co Ltd.
Embora a IA aumente a eficiência e a precisão dos processos, o congresso destacou que o design e o valor simbólico das joias continuam dependentes da criatividade humana.
África: novos polos de produção e consumo
O painel dedicado à África evidenciou o potencial de crescimento dos mercados africanos de joias finas, impulsionado pelo aumento da renda e pela consolidação de polos de design e manufatura em países como Nigéria, Zâmbia e África do Sul. Observou-se uma tendência de autocompra entre mulheres e o fortalecimento de marcas locais, expressando identidade cultural e criatividade regional.
Educação e novas publicações
A CIBJO anunciou a criação da International Fine Jewellery Academy, em parceria com ConfCommercio e CAPAC, com sede em Milão, e cooperação com a Haute École de Joaillerie de Paris. A iniciativa visa capacitar novas gerações de profissionais com foco em ética, inovação e preservação do artesanato.
Foram também apresentados novos guias técnicos sobre Jade, Opala e Pérolas, com lançamento previsto para 2026, incluindo o guia Describing and Classifying Natural and Cultured Pearls, de 268 páginas.
Sustentabilidade na indústria de pérolas
Encerrando o congresso, o painel sobre a indústria de pérolas cultivadas destacou a importância da aquacultura regenerativa e da preservação ambiental para garantir a produtividade a longo prazo. Foram relatadas reduções na produção japonesa devido ao aquecimento dos oceanos e avanços em rastreabilidade via blockchain em cultivos australianos.
Conclusão
O Congresso CIBJO 2025 consolidou um consenso internacional em torno de quatro eixos fundamentais: ética, sustentabilidade, padronização e inovação tecnológica. Para o IBGM, as conclusões do evento reafirmam a importância da governança global e fortalecem o compromisso do setor brasileiro com práticas responsáveis e competitivas.